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Tenho saudades tuas.
Sinceramente não sei como é que, hoje, é
possível estarmos a viver destinos separados. Tudo parecia estar bem. Pelo
menos para mim. Eu era feliz contigo.
Podes ser meu
só mais uma vez? Sabes que saio da faculdade às cinco horas. É só apareceres lá
com o carro que tantas vezes foi o nosso ninho de amor. Depois podemos parar no
McDonald’s e compramos o Sunday de caramelo que tanto adoras. Enquanto voltamos
para casa falas-me das tuas preocupações e dos teus sucessos do dia, e pousas a
mão na minha perna enquanto te conto algo que aprendi na faculdade e tu finges
que achas interessante também - até disso tenho saudades. Quando finalmente
chegamos a casa, desvias-me o cabelo do ombro para ficar com o pescoço
descoberto, e enche-lo com a tua respiração quente enquanto tenho achar as
chaves de casa. Sabes que isso me faz cócegas, mas sempre disseste que adoravas
o meu riso, então agarras-me na cintura, encostas a tua cabeça à minha e
começas a mordiscar-me o pescoço. Com toda a minha força, que segundo tu não é
nenhuma, tento afastar-te de mim e quando finalmente consigo abrir a porta
corro para a sala, deito-me no sofá, de barriga para baixo, com os braços
encostados ao corpo para não me fazeres mais cócegas. Enquanto isso ouço-te a
fechar a porta, a arrumar as chaves na minha mala e a descalçar os sapatos.
Vens para a sala e quando me vês no sofá, deitas-te em cima de mim. Faço um
esforço para não me queixar do teu peso, mas és mais teimoso que eu e continuas
quieto, em silêncio, à espera de uma oportunidade para me fazeres cócegas. Sei
que não vale de nada continuar a fingir, então peço-te que saias de cima de mim
e quando o fazes as cócegas voltam. Tento escapar dos teus braços e, a correr,
subo as escadas, entro no nosso quarto e vejo a porta. Encosto as costas à
porta com todas as minhas forças, mas claro, consegues abri-la na mesma. Vens
direito a mim com um ar angelical que nada condiz contigo mas que te fica tão
bem, olhas-me nos olhos e dizes que me amas. Sorrio e olho para os teus lábios
enquanto digo que te amo. Sinto as tuas mãos firmes na minha cintura e
beijamo-nos. Pegas-me ao colo e sentas-me na cama. Ajudas-me a despir a minha
blusa favorita de meia estação, e sozinho despes a tua. Suavemente deitas-me e
beijas-me desde a boca até ao umbigo. Seguem-se todas as outras roupas que
estão a mais entre nós e finalmente podes-me possuir mais uma vez.
Chegou a hora. Vejo que mudaste completamente
a tua expressão, e começas a vestir-te. Sinto um medo repentino que me diz que
te vou perder para sempre, então levanto-me e sem te olhar nos olhos abraço-te
e ficamos em silêncio. Dizes-me que tem de ser, pegas nas tuas coisas e
abandonas-me para sempre.
Sei que isso nunca vai acontecer, mas tudo o
que eu queria era matar saudades, e já que não te posso ter para sempre ao
menos dá-me um mero dia da vida.
É extraordinário o pouco tempo que passou
desde que não és meu e, simultaneamente, a rapidez com que tudo acontece. Já
aluguei o quarto de hóspedes a uma rapariga que frequenta a mesma faculdade que
eu. Inclusive é já lhe falei de ti, e posso dizer que somos grandes amigas. É
ela que tem ocupado o meu tempo para eu não passar o dia a pensar em ti.
Acreditas que tenho saído à noite quase todos os fins-de-semana? Até mesmo em
alguns dias de semana. A verdade é que me tenho divertido bastante com ela, e
estou a aprender que afinal consigo sentir a tua falta e estar sem ti ao mesmo
tempo. E tu sem mim, pelo que ouvi dizer. Voltaste a ser aquele rapaz que todos
os teus amigos adoram. Sempre a falar das boazonas que queres conquistar.
Conhecendo-te como conheço, diria que estás a usar essa máscara para esconder
os sentimentos que te atormentam, como por exemplo as saudades que tens de mim.
Não nos encontrámos desde o dia em que
partiste e ainda bem. Quando estás longe lido melhor com a tua perda.
Só me resta esperar que o futuro que
escolheste para mim me reserve algo melhor do que aquele que desenhei para mim.
Enquanto isso vou colocar esta carta sem destino dentro de um envelope e
guardá-la na minha gaveta das memórias, onde está tudo o que era nosso.
Aproveita
bem a tua vida sem mim.
P.S:
Espero por ti às cinco. Amo-te.
- inês pais