terça-feira, 19 de março de 2013

Tudo o que nunca te poderei dizer

Já fazia algum tempo que eu não escrevia. Não digo aqui no blog, estou mesmo a falar de histórias, por isso decidi postar aqui a minha criação mais recente. Espero que gostem (:
 
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 Tenho saudades tuas.
 Sinceramente não sei como é que, hoje, é possível estarmos a viver destinos separados. Tudo parecia estar bem. Pelo menos para mim. Eu era feliz contigo.
 Podes ser meu só mais uma vez? Sabes que saio da faculdade às cinco horas. É só apareceres lá com o carro que tantas vezes foi o nosso ninho de amor. Depois podemos parar no McDonald’s e compramos o Sunday de caramelo que tanto adoras. Enquanto voltamos para casa falas-me das tuas preocupações e dos teus sucessos do dia, e pousas a mão na minha perna enquanto te conto algo que aprendi na faculdade e tu finges que achas interessante também - até disso tenho saudades. Quando finalmente chegamos a casa, desvias-me o cabelo do ombro para ficar com o pescoço descoberto, e enche-lo com a tua respiração quente enquanto tenho achar as chaves de casa. Sabes que isso me faz cócegas, mas sempre disseste que adoravas o meu riso, então agarras-me na cintura, encostas a tua cabeça à minha e começas a mordiscar-me o pescoço. Com toda a minha força, que segundo tu não é nenhuma, tento afastar-te de mim e quando finalmente consigo abrir a porta corro para a sala, deito-me no sofá, de barriga para baixo, com os braços encostados ao corpo para não me fazeres mais cócegas. Enquanto isso ouço-te a fechar a porta, a arrumar as chaves na minha mala e a descalçar os sapatos. Vens para a sala e quando me vês no sofá, deitas-te em cima de mim. Faço um esforço para não me queixar do teu peso, mas és mais teimoso que eu e continuas quieto, em silêncio, à espera de uma oportunidade para me fazeres cócegas. Sei que não vale de nada continuar a fingir, então peço-te que saias de cima de mim e quando o fazes as cócegas voltam. Tento escapar dos teus braços e, a correr, subo as escadas, entro no nosso quarto e vejo a porta. Encosto as costas à porta com todas as minhas forças, mas claro, consegues abri-la na mesma. Vens direito a mim com um ar angelical que nada condiz contigo mas que te fica tão bem, olhas-me nos olhos e dizes que me amas. Sorrio e olho para os teus lábios enquanto digo que te amo. Sinto as tuas mãos firmes na minha cintura e beijamo-nos. Pegas-me ao colo e sentas-me na cama. Ajudas-me a despir a minha blusa favorita de meia estação, e sozinho despes a tua. Suavemente deitas-me e beijas-me desde a boca até ao umbigo. Seguem-se todas as outras roupas que estão a mais entre nós e finalmente podes-me possuir mais uma vez.
 Chegou a hora. Vejo que mudaste completamente a tua expressão, e começas a vestir-te. Sinto um medo repentino que me diz que te vou perder para sempre, então levanto-me e sem te olhar nos olhos abraço-te e ficamos em silêncio. Dizes-me que tem de ser, pegas nas tuas coisas e abandonas-me para sempre.
 Sei que isso nunca vai acontecer, mas tudo o que eu queria era matar saudades, e já que não te posso ter para sempre ao menos dá-me um mero dia da vida.
 É extraordinário o pouco tempo que passou desde que não és meu e, simultaneamente, a rapidez com que tudo acontece. Já aluguei o quarto de hóspedes a uma rapariga que frequenta a mesma faculdade que eu. Inclusive é já lhe falei de ti, e posso dizer que somos grandes amigas. É ela que tem ocupado o meu tempo para eu não passar o dia a pensar em ti. Acreditas que tenho saído à noite quase todos os fins-de-semana? Até mesmo em alguns dias de semana. A verdade é que me tenho divertido bastante com ela, e estou a aprender que afinal consigo sentir a tua falta e estar sem ti ao mesmo tempo. E tu sem mim, pelo que ouvi dizer. Voltaste a ser aquele rapaz que todos os teus amigos adoram. Sempre a falar das boazonas que queres conquistar. Conhecendo-te como conheço, diria que estás a usar essa máscara para esconder os sentimentos que te atormentam, como por exemplo as saudades que tens de mim.
 Não nos encontrámos desde o dia em que partiste e ainda bem. Quando estás longe lido melhor com a tua perda.
 Só me resta esperar que o futuro que escolheste para mim me reserve algo melhor do que aquele que desenhei para mim. Enquanto isso vou colocar esta carta sem destino dentro de um envelope e guardá-la na minha gaveta das memórias, onde está tudo o que era nosso.
Aproveita bem a tua vida sem mim.

P.S: Espero por ti às cinco. Amo-te.
- inês pais